quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Discurso da Inclusão



“Inclusão social” e “educação inclusiva” são expressões que ganharam importância no discurso de diferentes correntes político-ideológicas nos últimos anos. Debates com tais finalidades têm focalizado as chamadas “minorias” ou “grupos excluídos” que, juntamente com os referidos “deficientes” ou “especiais” (me perdoem pelo termo, eu proporia “reflexivo-diferenciais”, mas infelizmente são esses os usados), numericamente representam grande parte da população mundial. É exatamente um diagnóstico de produção de “exclusão social” que tem justificado a necessidade de se propor políticas que contemplem uma inclusão a partir da reorganização estrutural e conseqüentemente social.

É válido se observar a existência de toda uma estrutura que faz da proposta essencial do termo “inclusão” uma farsa, já se supondo que “se há uma necessidade de inclusão, haverá sempre propensão à exclusão, afinal, os termos não se anulam em prática”, sendo assim, fato, que sempre haverá excluídos. Essa idéia se percebe quando que em cada proposta de inclusão se conseqüência em nova exclusão, de forma a manter uma promoção do equilíbrio “natural” proposto pela ordem organizacional do que chamo de “sistema das necessidades”, baseando felicidade e liberdade em mera prática potencial de consumo, seja estético – que não deixa de ter sua importância, claro, mas até certo ponto – ou de auto-afirmação egocêntrica em detrimento à inferiorização do outro.

Pierre Bourdieu e Louis Althusser já propunham que a estrutura escolar é mera reprodução do modelo de sistema vigente, sendo a Escola o maior ratificador e propagador das diferenças sociais e da marginalização. Essas diferenças se manifestam em muito no cotidiano pós-moderno das relações humano-individualistas, quando se percebe a tolerância (que, de acordo com as análises sociológicas de Zygmunt Bauman, direciona à indiferença e à apatia, castrando o respeito e o conhecimento pela diversidade) em lugar da solidariedade (que, nesse caso, proporia acolhimento, reconhecimento e respeito à diversidade como fundamental nas relações sociais). Conclusões dessa espécie acerca dessas idéias mostram que há mais do que uma necessidade de re-educação; só haverá possibilidade de re-educação numa re-organização teórico-institucional.

Assim como que nos modelos de inteligências múltiplas de Howard Gardner, que exalta apenas uma das possíveis inteligências desenvolvíveis pela capacidade cognitiva humana (geralmente o de interesse comum à sustentação do modelo tecnológico-industrial, deixando os outros modelos de desenvolvimento cognitivo sem espaço para desenvolvimento), a existência de uma práxis da “inclusão educacional” será impossível enquanto se mantiver intacto o modelo tradicional institucional padronizado da “Escola” – que aprisiona a liberdade das possibilidades de expansão do desenvolvimento da cognição – sendo esse um modelo baseado numa fundamentação teórica sócio-relacional que, por si só, já é mais excludente que inclusiva, mantendo a maioria da população na idéia de “incluída”, graças à internalização de necessidades majoritariamente fúteis, na busca por um futuro “promissor”, porém desconhecido.
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Imagem: FEE - Fórum de Educação Especial
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