sábado, 22 de junho de 2013

NOTÍCIAS DO TEMPO IMEDIATO

São_Paulo.BRASUL
 
Esses últimos dias foram quentes. A grande mídia deixou claro sua posição golpista. Muita gente que foi pra rua, mostrou que não entende muito de política, mas entendeu que o poder de ir pra rua gritar sua opinião é importante numa democracia. Agora os grupos se entendiam melhor. Nesses tensos momentos de revoltas e manifestos, minha mente não consegue evitar de lembrar uma História, vá lá, nem tão surreal assim. Durante a bolha temporal compreendida entre os três dias dos violentos protestos em São Paulo, e os últimos dias da organização dos protestos de Recife nas redes sociais, senti na pele como é ser paulistano e recifense ao mesmo tempo. Meu espírito me propôs numa agonia sem fim, e viajei para um plano existencial, compreendido num tempo-espaço que desconheço: a III Guerra Civil Brasileira. Não me pergunte quando foi, eu não sei. Mas a experienciei. Senti na pele o que sente um escorraçado, um exilado político. A Globo.GOV, através de um golpe midiático de opinião pública, fez com que a maioria dos paulistanos e paulistas apoiassem um regime ditatorial. Fiquei estarrecido com minha cidade natal. Muita gente queria a polícia no poder, mas com os civis alternando a política. Os policiais chegaram lá, mas os civis nunca pisaram no congresso. Lembro-me que isso foi tentado nos primeiros anos da república no Brasil e não deu certo. Pois bem, os tempos eram outros. E desde muito tempo as escolas de São Paulo aboliram as ciências humanas do currículo escolar, e se perdeu a memória coletiva do que acontecera no Brasil nos últimos anos. Repito: não sei que época estamos. Os anos hoje passam mais rápido do que antes, é difícil saber. Só sei que os nordestinos, os espíritas, os representantes das religiões afrodescendentes e africanas, os negros, os homossexuais, e os feios de todo tipo e estirpe foram banidos do sudeste, num movimento que crescia a cada dia. O Rio de Janeiro era um estado à parte, e há muito havia sido tomado pelas forças militares mais radicais, assim como os estados do centro e centro-oeste do país. A Bahia era o estado que estava de fato no meio do conflito, meio sem saber como se portar. O sul baiano apoiava a revolta sudestina, e o norte apoiou os estados acima. A Bahia estava sendo dividida. O nordeste então se organizou, capturou seus descendentes históricos, e se propôs numa luta desigual: uma batalha militar com o sudeste, a fim de igualar os sotaques entre as regiões, afinal, o nordestino é quase tão regionalista quanto o sulista, que ficou de fora dessa batalha por ter agora em sua essência populacional somente descendentes alemães, além do poder central político ter sido tomado pelas forças de coalização dos EUA, que entravam cada dia mais firmemente em conflito com as Forças Chinesas de Apoio Popular ao nordeste. Lembro que a grande maioria dos sulistas se mudou para outros países, principalmente a Argentina. Não me lembro bem porque, mas no centro e no norte do país eu não via muita movimentação. Acho que a mídia os escamoteava do processo. Seria mercado de apoio instrucional e cultural comercial. Enfim, minha memória sempre me prega peças. O que importa é que nordeste e sudeste entraram em pesada guerra. O sucessor do sucessor do sucessor do que era o extinto PT foi deposto da presidência do país, e veio comandar a luta em Pernambuco, como presidente interino. Eram os novos anos de chumbo. Os paulistas queriam o fim da influência dos nordestinos, e dos cidadãos citados lá em cima, da cultura política do país. Hoje o termo cultura entra antes de tudo, porque tudo é cultura. Cultura política, cultura econômica, cultura instrucional (educação, com viés especialmente técnico). Os nordestinos queriam independência do Brasil, assim como em um tempo passado, 1824. Veio então a segregação do país. Lembro-me de terem sido iniciadas batalhas ferrenhas, sangrentas, covardes, onde o sudeste se impunha com suas armas químicas, e o nordeste montava suas guerrilhas na fronteira com a Bahia, pelas praias. A Bahia, coitada, estava sendo reduzida a cinzas, era o campo de batalha. A ONU não se pronunciava, afinal, os EUA apoiaram firmemente o golpe da Globo.GOV. Lembro que os países da Europa pediam cautela, e que os países asiáticos queriam era que a gente se explodisse. Bem, ao findar dos fatos, lembro que hoje, esse dia em que estou vivendo nesse tempo que desconheço, existem dois Brasis: O Brasil do Norte, que compreende nordeste (à frente politicamente), norte e têm o apoio de Cuba, da Bolívia e da Venezuela. Já o Brasil do Sul ficou com seus neoliberais comandando o Estado, via ditadura disfarçada, batizada de Democracia Militarista. As minorias lá se fortaleciam. Foi a primeira vez que vi juntos neonazistas e evangélicos lutando por uma mesma causa, se abraçando nas ruas, ao fim de um massacre de homossexuais. O nordeste ficou mais radical (e olhe que já era deveras radical, mais do que no tempo de vocês que leem esse relato). Mas estava pior. Tão pior que os paulistanos da gema que aqui moravam, tiveram que se declarar Nordestinistas, termo usado para identificar as pessoas que aqui moravam há tempos, mas não haviam nascido aqui. Como minha família era do sertão daqui, pude me refugiar em sua cidade natal, São José do Egito, e fui aposentado compulsoriamente da minha profissão de educador, e passo os dias escrevendo besteiras, lendo e ouvindo música, enquanto me balanço na rede e crio meus filhos. Sempre digo a eles: muito sangue foi derramado nessa guerra, a mais sangrenta guerra acontecida em território brasileiro. Eles ouviam com uma atenção danada, mas depois iam correndo brincar no açude da cidade. 

F. Souza Viana
Sao_Jose_do_Egito.BRANORTE, 
(ANO DESCONHECIDO)

domingo, 24 de março de 2013

SÃO PAULO SEM PASSADO...

...SÃO PAULO SEM HISTÓRIA

Recentemente, através das Resoluções nº 81 de 16/12/2011 e nº 2 de 18/01/2013, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo retirou o ensino de História (além de Geografia e Ciências Físicas e Biológicas) dos 1º, 2º e 3º anos da Matriz Curricular dos anos iniciais do Ensino Fundamental e reduziu a presença da disciplina de História a 5% da carga horária no 4º e 5º anos, restando apenas 100 horas de estudo de História numa carga total de 5.000 horas de estudos para as crianças entre 6 e 10 anos de idade.

Soma-se a esse sequestro cognitivo, a proposta curricular São Paulo Faz Escola, criada em 2007 e ainda mantida pela atual gestão do governo do estado, com seus fascículos apostilados voltados aos anos finais do Ensino Fundamental e Médio, denominados Caderno do Professor e Caderno do Aluno, que padronizam práticas, engessam a autonomia e a criatividade dos professores, objetivando o estreito propósito de treinar jovens para obter melhores notas nos sistemas padronizados de avaliação como SARESP, Prova Brasil e ENEM.
 
Nesse sentido, expressamos uma legítima preocupação diante da ausência do ensino de História para crianças, adolescentes e adultos, que serão educados (ou deseducados) na ignorância do passado, resultando numa bomba de lesa-conhecimento.

Além disso, a proposta indica de forma absolutamente equivocada, que disciplinas como História, Geografia e Ciências não contribuem para o processo de alfabetização e letramento das crianças. Cria-se uma artificial e inverídica oposição entre esses conhecimentos, como se o ensino dessas disciplinas fosse incompatível com Língua Portuguesa e Matemática, negando todas as discussões teóricas e as práticas bem sucedidas, acerca da interdisciplinaridade, e as potencialidades que trabalhos dessa natureza representam para o processo de aquisição da leitura e da escrita. Assim, ao invés de aprofundar a formação dos professores quanto ao conhecimento da especificidade dessas disciplinas escolares visando ampliar as possibilidades de trabalhos que assegurem formas significativas de aprendizagem para os alunos, a SEE/SP prefere promover a subtração de disciplinas básicas do currículo, restringindo o conhecimento de uma expressiva parcela das crianças paulistas, aviltando, inclusive, a formação do professor.
 
Nós, professores e pesquisadores da Educação e da História, posicionamo-nos contra essas propostas curriculares que desqualificam e extirpam História, Geografia e Ciências da formação das crianças paulistas. Sabemos que essas práticas que retiram a História e promovem a amnésia social, promovem também o apagamento e o silenciamento do passado ao deliberadamente ignorar o debate acumulado sobre a História escolar das últimas décadas, bem como as pesquisas nesse campo, instituindo um ensin o excludente que priva a parte mais sensível da população, as crianças em formação, do conhecimento histórico.

GT de Ensino de História e Educação da ANPUH-SP
GT de Ensino de História e Educação da ANPUH-Brasil