Estamos
experienciando um abissal paradoxo nas escolas públicas estaduais de Pernambuco
nos últimos seis anos. Uma pré-disposição do governo para desenvolver uma espécie
de “pedagogia de projetos”, via aplicabilidade interdisciplinar, estipulou um horário
integral para formação ética e profissional dos cidadãos nas escolas. Programa que
poderia desenvolver plenamente a capacidade cognitiva de alunos e professores, por
exercer uma prática de desconstrução e reconstrução do conhecimento tradicional
nas escolas, se não fosse o grande problema das metas indiciárias. Como bem
vemos, existem índices que precisam manter uma função quantitativa para
conquistar investimentos de setores internacionais à educação pública
brasileira. O Banco Mundial, por exemplo, é quem mais investe em nossa educação,
em troca de índices crescentes a todo custo, em curto prazo, visando
desenvolvimento básico para criação de mercado produtor e consumidor. Não seria
de todo ruim, se não “esquecessem” que quem trabalha com educação, mexe com
“gente”, seres humanos; cultura; modos de ser; representações; que não se
transformam em curto prazo, como querem as metas e os índices. Um ano (365
dias) para a educação, é o mesmo que poucos minutos para a engenharia ou alguns
segundos para o teste de laboratório. É muito pouco tempo (perdoem o paradoxo) para
criar resultados! Gera então um mal estar entre as escolas (gerência e
professores, acusados de incompetentes), GREs e Secretaria de Educação, todos
amarrados num modelo populista e neoliberal de desenvolvimento, disfarçado de
socialista. Um abuso. E quem mais sofre com esse modelo: professores e alunos,
que estão sendo cada vez mais escanteados, enquanto “todos” vão sendo “aprovados”,
e os números crescendo automaticamente nos noticiários da TV. O professor faz
um horário integral, mas tem que compensar déficits básicos escolares nos
horários que deveriam ser dedicados aos projetos (problemas como alfabetização
de alunos que já deveriam saber ler e escrever – sim, existem alunos no ensino
médio que são analfabetos funcionais –, e problemas administrativos, só pra
citar alguns exemplos). E embora tenha havido uma gratificação financeira
(suficiente?) e uma relativa melhoria na estrutura física para o
desenvolvimento do trabalho (é bom que se diga), problemas de cunho ético (o
que se está fazendo na escola?), epistemológico (que conhecimento é esse que
está sendo construído?), e psicológico (pressão administrativa, profissional) estão
crescendo. No mínio, um verdadeiro paradoxo.
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