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Esses últimos dias foram quentes. A grande mídia deixou claro sua
posição golpista. Muita gente que foi pra rua, mostrou que não entende muito de
política, mas entendeu que o poder de ir pra rua gritar sua opinião é
importante numa democracia. Agora os grupos se entendiam melhor. Nesses tensos
momentos de revoltas e manifestos, minha mente não consegue evitar de lembrar uma
História, vá lá, nem tão surreal assim. Durante a bolha temporal compreendida
entre os três dias dos violentos protestos em São Paulo, e os últimos dias da
organização dos protestos de Recife nas redes sociais, senti na pele como é ser
paulistano e recifense ao mesmo tempo. Meu espírito me propôs numa agonia sem
fim, e viajei para um plano existencial, compreendido num tempo-espaço que
desconheço: a III Guerra Civil Brasileira. Não me pergunte quando foi, eu não
sei. Mas a experienciei. Senti na pele o que sente um escorraçado, um exilado
político. A Globo.GOV, através de um golpe midiático de opinião pública, fez
com que a maioria dos paulistanos e paulistas apoiassem um regime ditatorial.
Fiquei estarrecido com minha cidade natal. Muita gente queria a polícia no
poder, mas com os civis alternando a política. Os policiais chegaram lá, mas os
civis nunca pisaram no congresso. Lembro-me que isso foi tentado nos primeiros
anos da república no Brasil e não deu certo. Pois bem, os tempos eram outros. E
desde muito tempo as escolas de São Paulo aboliram as ciências humanas do
currículo escolar, e se perdeu a memória coletiva do que acontecera no Brasil nos
últimos anos. Repito: não sei que época estamos. Os anos hoje passam mais rápido do
que antes, é difícil saber. Só sei que os nordestinos, os espíritas, os representantes das
religiões afrodescendentes e africanas, os negros, os homossexuais, e os feios de
todo tipo e estirpe foram banidos do sudeste, num movimento que crescia a cada
dia. O Rio de Janeiro era um estado à parte, e há muito havia sido tomado pelas
forças militares mais radicais, assim como os estados do centro e centro-oeste
do país. A Bahia era o estado que estava de fato no meio do conflito, meio sem
saber como se portar. O sul baiano apoiava a revolta sudestina, e o norte
apoiou os estados acima. A Bahia estava sendo dividida. O nordeste então se
organizou, capturou seus descendentes históricos, e se propôs numa luta
desigual: uma batalha militar com o sudeste, a fim de igualar os sotaques entre
as regiões, afinal, o nordestino é quase tão regionalista quanto o sulista, que
ficou de fora dessa batalha por ter agora em sua essência populacional somente
descendentes alemães, além do poder central político ter sido tomado pelas
forças de coalização dos EUA, que entravam cada dia mais firmemente em
conflito com as Forças Chinesas de Apoio Popular ao nordeste. Lembro que a grande
maioria dos sulistas se mudou para outros países, principalmente a Argentina.
Não me lembro bem porque, mas no centro e no norte do país eu não via muita
movimentação. Acho que a mídia os escamoteava do processo. Seria mercado de
apoio instrucional e cultural comercial. Enfim, minha memória sempre me prega
peças. O que importa é que nordeste e sudeste entraram em pesada guerra. O
sucessor do sucessor do sucessor do que era o extinto PT foi deposto da
presidência do país, e veio comandar a luta em Pernambuco, como presidente
interino. Eram os novos anos de chumbo. Os paulistas queriam o fim da
influência dos nordestinos, e dos cidadãos citados lá em cima, da cultura política
do país. Hoje o termo cultura entra antes de tudo, porque tudo é cultura.
Cultura política, cultura econômica, cultura instrucional (educação, com viés
especialmente técnico). Os nordestinos queriam independência do Brasil, assim
como em um tempo passado, 1824. Veio então a segregação do país. Lembro-me de
terem sido iniciadas batalhas ferrenhas, sangrentas, covardes, onde o sudeste se
impunha com suas armas químicas, e o nordeste montava suas guerrilhas na
fronteira com a Bahia, pelas praias. A Bahia, coitada, estava sendo reduzida a
cinzas, era o campo de batalha. A ONU não se pronunciava, afinal, os EUA apoiaram
firmemente o golpe da Globo.GOV. Lembro que os países da Europa pediam cautela,
e que os países asiáticos queriam era que a gente se explodisse. Bem, ao findar
dos fatos, lembro que hoje, esse dia em que estou vivendo nesse tempo que
desconheço, existem dois Brasis: O Brasil do Norte, que compreende nordeste (à
frente politicamente), norte e têm o apoio de Cuba, da Bolívia e da Venezuela.
Já o Brasil do Sul ficou com seus neoliberais comandando o Estado, via ditadura
disfarçada, batizada de Democracia Militarista. As minorias lá se fortaleciam.
Foi a primeira vez que vi juntos neonazistas e evangélicos lutando por uma
mesma causa, se abraçando nas ruas, ao fim de um massacre de homossexuais. O
nordeste ficou mais radical (e olhe que já era deveras radical, mais do que no
tempo de vocês que leem esse relato). Mas estava pior. Tão pior que os
paulistanos da gema que aqui moravam, tiveram que se declarar Nordestinistas,
termo usado para identificar as pessoas que aqui moravam há tempos, mas não
haviam nascido aqui. Como minha família era do sertão daqui, pude me refugiar em
sua cidade natal, São José do Egito, e fui aposentado compulsoriamente da minha
profissão de educador, e passo os dias escrevendo besteiras, lendo e ouvindo
música, enquanto me balanço na rede e crio meus filhos. Sempre digo a eles:
muito sangue foi derramado nessa guerra, a mais sangrenta guerra acontecida em
território brasileiro. Eles ouviam com uma atenção danada, mas depois iam
correndo brincar no açude da cidade.
F. Souza Viana
Sao_Jose_do_Egito.BRANORTE,
(ANO DESCONHECIDO)
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