quarta-feira, 20 de junho de 2007

Eis que surge o renascimento:

do Underground...


No início foram os beatnicks. Era começo dos anos de 1950 e o mundo vivia o pós-guerra. Os EUA, despontando como grande potência bélico-econômica mundial, construíam o que entraria para a história como american dream (sonho americano). Mas sua juventude encontrava-se perdida em meio a um pesadelo de incertezas e sentimentos de desajuste. Costumes antigos não mais cabiam na nova época. A saída? Abandonar tudo e experimentar novos lugares, novos hábitos e tudo mais que houvesse de novo. A literatura beat, embora nascida em textos de poesia ou prosa, trazia forte componente filosófico e musical, além de forte interesse por tudo o que quebrasse o discurso do establishment - político e cultural.No entanto, as manifestações do comportamento se encontravam em pleno movimento, e as coisas ainda tinham que mudar bastante. Segundo Cláudio Willer, pioneiro tradutor de literatura beat no Brasil e também poeta, o movimento existiu em um contexto relativamente curto no tempo, encerrando-se em seu formato original no final dos anos de 1950. Dele, no entanto, nasceria o primo famoso, o movimento de contracultura, que se fez conhecer mundialmente por meio da figura dos hippies. "Digamos que os beats do final de 1950 foram substituídos - ou sucedidos - pelos hippies a partir de meados da década de 1960", esclarece Willer. "A contracultura nasce dentro da geração beat ou a partir dela." Nessa linha do tempo, o poeta aponta como decisivo fato desencadeador a participação de Allen Ginsberg em manifestações pacifistas a partir de 1963, quando o autor voltou de uma longa viagem ao Oriente e passou a prestar especial atenção a tudo o que fosse alternativo. "Além de sua aproximação com Bob Dylan e grupos de rock", complementa Willer.
No Brasil, a exemplo do que acontecia no resto do mundo - pelo menos o ocidental -, a contracultura, sua música e, principalmente, sua atitude fariam surgir outra vertente que igualmente ficaria na história - e que, segundo alguns, ainda continuaria em voga: o underground. "Nos anos 60, quando Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa fizeram a Tropicália, embora eles quisessem arrebentar com a coisa toda, na verdade eles faziam uma pequena cultura underground, “a exemplo de Gal Costa, quando faz, em seu segundo disco, uma lista das coisas alternativas que ela gostava”, explica o escritor e dramaturgo Antonio Bivar, participante do projeto Underground – Passado / Presente?, no Sesc Consolação, em São Paulo.
Com o País vivendo sob uma ditadura militar que tentava calar artistas e intelectuais numa época em que o mundo fervilhava de novidades, o movimento nasceu ligado fortemente a um desejo de liberdade. O artista plástico José Roberto Aguilar pinta um quadro da época: "Muito do underground, mesmo nas lutas políticas, partiu para um lance de conduta e comportamento, e isso foi fantástico. Além disso, havia o 'faça amor, não faça guerra', a permissividade sexual, os novos comportamentos. O underground nasceu assim”.






...ao Udigrudi

Segundo Luiz Carlos Maciel, Glauber Rocha inventou esse termo para "satirizar" o pessoal do Julio Bressane e Rogério Sganzerla, ou seja, o cinema underground, críticos do Cinema Novo. "E a palavra é horrível, ela manifesta uma ignorância não só do inglês como do português também", enxerga Maciel. Por isso diz-se que a 'tradução' foi uma tentativa de Glauber ridicularizar o movimento. "Ele quis reduzir o underground, principalmente no cinema, porque o pessoal desse movimento na época era uma geração que vinha contestando Glauber. Embora eles fossem meio filhos dele, eles queriam contestar seu poder paterno. E Glauber se sentia sacaneado por eles e inventou esse termo." No entanto, os representantes do underground adoraram a idéia, achavam que tinham de fato provocado com sua atitude contracultural e resolveram assumir o termo. Dessa forma, muitos começaram a se chamar de udigrudi, a despeito da intenção original do termo. Outra vertente é que o termo teria sido criado pelo jornal Pasquim para referir-se ao movimento “underground”, e depois alguns o utilizaram para o movimento contra-cultural recifense.
Os cineastas que fizeram parte do cinema novo prosseguem suas carreiras, a partir da segunda metade dos 70, já desligados do movimento (embora para alguns, especialmente Glauber Rocha, seja difícil afastar-se do rótulo). O cinema novo é substituído como “o” cinema alternativo pelo movimento Udigrudi o cinema-lixo de Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, entre outros, que aparece como, simultaneamente, uma rejeição (principalmente do intelectualismo e das opções estéticas ali- nhadas ao cinema europeu) e uma radicalização do cinema novo. Sem pretensões tão internacionalistas e sem uma política tão definida para o terceiro mundo, o cinema Udigrudi ainda assim faz sua afirmação sobre como deve ser a estética terceiro-mundista: a partir do lixo, das sobras podres (que pode ser tanto lixo cultural, lixo midiático, como lixo tecnológico) do primeiro mundo, o terceiro mundo tem que fazer um cinema ne- cessariamente precário, mal-acabado, violento, iconoclasta e antiburguês.
O movimento Udigrudi, bastante difundido no Recife da década de 70, resumiu-se a uma discografia pequena, onde as dificuldades técnicas da época (Recife, anos 70) foram sobrepostas pelo talento musical e força de vontade, apoiado não só na música - mas em textos, peças teatrais, cinema e artes plásticas - pode demonstrar a riqueza desse (anti) movimento, que trazia influências da Jovem Guarda, beatlemania, tropicalismo e regionalismo, tudo isso unido a uma psicodelia pós-Woodstock. Entre os maiores representantes musicais desse processo, estão Alceu Valença, Aratanha Azul, Ave Sangria, Flaviola e o Bando do Sol, Geraldo Azevedo, Ivinho, Laboratório de Sons Estranhos, Lula Côrtes, Laílson, Marconi Notaro, Paulo Rafael, Phetus, Robertinho de Recife, Zé da Flauta, Zé Ramalho, entre outros.
Paêbirú é um dos principais expoentes do gênero Udigrudi. Participaram da gravação do álbum músicos importantes, como Paulo Rafael, Robertinho de Recife, Geraldo Azevedo e Alceu Valença. Na época em que gravou Paêbirú, Lula Côrtes já tinha no currículo o disco Satwa, de 1973, que trazia canções com títulos como Alegro Piradíssimo, Blues do Cachorro Louco e Valsa dos Cogumelos. Já Zé Ramalho tocava com Alceu Valença e tinha em sua bagagem a experiência de grupos de Jovem Guarda e beatlemania.
Além de sua raridade, Paêbirú é caro devido a uma aura quase mística. A fábrica e estúdio Rozenblit, onde o álbum foi produzido, ficava à beira do rio Capibaribe e foi inundada por uma enchente que atingiu Recife em 1975. Milhares de cópias do disco foram perdidas. Salvaram-se cerca de 300, que a ex-mulher de Côrtes, a cineasta Kátia Mesel, havia levado para casa. O disco nunca foi relançado no Brasil, devido a um desentendimento entre Côrtes e Ramalho. No entanto, o selo alemão Shadoks relançou Paêbiru em CD e vinil na Inglaterra ilegalmente, segundo Lula Côrtes. Paêbirú quer dizer “o caminho do sol”, na linguagem inca. O álbum trazia seus quatro lados dedicados aos elementos da natureza [água, terra, fogo e ar]. Nesse clima, rolam canções perfeitas para um momento zen, como Trilha de Sumé, Culto à Terra, Bailado das Muscarias, com 13 minutos de violas, flautas, baixo pesado, guitarras, rabecas, pianos, sopros, chocalhos e vocais "árabes". Raga dos raios, com uma fuzz-guitar ensandecida, e a obra-prima Nas Paredes da Pedra Encantada, os segredos talhados por Sumé, regravada nos anos 90 por Jorge Cabeleira, com participação de Zé Ramalho.
Todos, ou quase todos os discos relacionados a esse movimento e a outros que o influenciaram de forma direta ou indireta, consciente ou inconsciente, como a tropicália e relacionados, podem ser encontrados para donwload em:
http://udigrudirecife.multiply.com e/ou em http://sombarato.blogspot.com.
Já para quem se interessa mais ou ainda não conhece a psicodelia nordestina, mais especificamente, é só acessar o blog
Brazilian Nuggets. Lá é possivel baixar alguns discos, ver capas e ler releases e matérias sobre os álbuns.
Hoje, sabemos e entendemos que o movimento underground continua, contudo seguindo vertentes diferentes em relação a sua atuação. Na rede informatizada, encontramos zines e sites direcionados ao movimento, como o
http://udigrudi.net/zine/2006/08/index.html, embora nem sempre o conteúdo desses links nos enviem para o estudo e a análise mais aprofundada do que foi o movimento na época, mas fazem uma continuação do movimento atendendo às novas necessidades de interpretações criadas na pós-modernidade.


Fontes e referências:

Blog SomBarato:
www.sombarato.blogspot.com

PRYSTHON, Angela, In A Terra em Transe: o cosmopolitismo
às avessas do cinema
, UFPE, 2004.

________________, (organizadora); In Interferências Contemporâneas, 1998, UFPE.

Revista Paradoxo,
www.revistaparadoxo.com, reportagem de Conceição Gama, de fevereiro de 2006.

Site
www.wikipedia.org

.

Um comentário:

quilombra dos palmares disse...

claro!! toda contribuição é muito bem vinda!
nós hospedamos nossos discos no www.mediafire.com , servidor ilimitado e de graça.
então, se for possível, faz upload dos discos zipados para esse servidor, e nos envia um email com o link pra acessar o disco, que a gente bota na hora! se puder e tiver, nos manda a imagem da capa tb, que as vezes é meio dificil de achar na internet.

grande abraço!
fica a vontade pra usar links dos nossos discos no teu blog tb!!

outra coisa, tenho bastante interesse nessas tuas pesquisas aí.
sou um admirador dos beats, hippies, punks, udigrudis e tudo mais...