segunda-feira, 21 de março de 2011

A Sociedade dos Indivíduos

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Ontem eu parei para ler um livro de um autor chamdo Norbert Elias. Quem conhece, bem, talvez se identifique com a discussão abaixo, se interesse e leia. Já quem não conhece, eu obrigaria a ler as questões trazidas por essa discussão abaixo. Não para concordar. Não. Nem para discordar sem argumentos. É somente para conversarmos sobre o que eu pensei e sobre o que pensarão vocês, quando lerem.

O título do livro era A Sociedade dos Indivíduos. Parei na capa; nem abri o livro. Parei. Ora, como assim, uma sociedade de indivíduos? Como é possível? A palavra sociedade traz uma ideia de coletivo, de grupo. Indivíduo traz a ideia de único, indidivual. Ou seja, um grupo de individuais. Então abri o livro e não consegui passar mais do que seis páginas e parei novamente.


Como seria possível uma sociedade sem nação, sem Estado, sem língua, sem cultura própria? Como é possível isso, como é possível? Explica-me como é possível uma sociedade una com tanta diferença! É possível? Eu não consigo, minha imaginação aguçada ou péssima botou pra fora que Norbert Elias propôs uma hipótese... trocando em miúdos: ele viajou. Criou uma hipótese pra trabalhar em cima, pra pensar... como um personagem jogado lá e cá nos conceitos para poder selecionar alguns deles e poder avaliá-los. O que é que ele diz?




Uma sociedade no sentido de ser tão diferente que cada ser humano (indivíduo) é tão particular que todos acabamos sendo diferentes uns dos outros, fazendo com que, por mais que nos encerremos num grupo específico, com características específicas, sempre seremos indivíduos a partir de especificidades que só o indivíduo possui. Especificidade individual. 

Nos tempos contemporâneos, a sociedade de indivíduos forma o que a sociedade chamada sociedade de rede formou: uma só sociedade gigante, todos completamente diferentes uns dos outros; uns mais (um norueguês tradicional e um egípcio tradicional ou um chinês tradicional), outros menos (um brasileiro e um angolano ou paraguaio ou mexicano), mas sempre com características tão específicas quanto individuais, apesar dos grupos. 

As diferenças hoje são tantas e tão possíveis (talvez antes também, mas hoje se percebe mais claramente isso, pelo menos eu percebo) que construímos o que Norbert Elias denominou de sociedade dos indivíduos. Uma sociedade de humanos, independentemente de seus grupos específicos, humanos com suas particularidades por excelência. Que não individualistas (mas isso é outra discussão), mas individuais. Individualidades essas que se constituem dentro num padrão de um grupo mais comum (grupo com uma religião específica, um emprego específico, enfim...), que se caracterizam num todo de grupo específico, mas que traz suas individualidades latentes e, essas constroem a particularidade de cada indivíduo numa sociedade dos grupos: isso eu (e outros) chamo de subjetividade.         
Vamos lá: a população da Índia em 2009 era de 1.115.347.678 (um bilhão, cento e quinze milhões, trezentos e quarenta e sete mil, seiscentos e setenta e oito pessoas). Na China do mesmo ano era, de 1.331.460.000 (um bilhão, trezentos e trinta e um milhões, quatrocentos e sessenta mil pessoas). Eu sou péssimo de conta, mas acho que se somarmos isso aí, teremos mais ou menos (as calculadoras do meu computador e do meu celular não dão conta dessa conta. Não consegue raciocinar esse número. É muito grande. Vou fazer no papel: China e Índia juntas, em 2009, somavam 4.893.615.356 (vamos lá: quatro bilhões, oitocentos e noventa e três milhões, seissentos e quinze mil, trezentas e cinquenta e seis ) pessoas. O mundo, TODO, em 2009 tinha 6.775.235.741 (seis billhões, setecentos e setenta e cinco milhões, duzentos e trinta e cinco mil, setecentas e quarenta e uma) pessoas. Ou seja: a população da Índia somada a população da China resultam em mais da metade da população do mundo em 2009. QUASE DOIS TERÇOS DA POPULAÇÃO DO MUNDO. MAIS DA METADE DA POPULAÇÃO! METADE!

Isso está certo? Sério? Eu parei nesse pensamento por horas. Como é possível? Isso é uma averiguação que merece muito mais do que atenção: merece, no mínimo, repseito. Respeito porque, nós aqui, ocidentais, muito donos da razão e da verdade, achamos que nossa cultura, nosso modo de viver, nossas verdades e esperanças são as mais comuns, tradicionais, valorosas e permissivas. Ora, como é possível, se metade ou mais da metade do mundo se soma só em DOIS PAÍSES? E nem ocidentais são. Os mais povoados países do mundo. E a cultura desse povo? Suas crenças, seus costumes, seus valores? Se formos nos guiar pelos números (assim como é comum nos dias de hoje, sistemáticos, cartesianos, técnicos de mercado e consumo), talvez seria muito mais justo que esses dois países é que ditassem as regras culturais, de vida, no mundo. 

E as populações dos países do continente africano? O continente africano soma quantas pessoas? Numa pesquisa rápida, percebi que o quantitativo populacional desse continente é difícil de perceber. É um continente de zilhões de culturas e formatos sociais diferentes. E o restante do continente asiático? Somam então, provavelmente, a grande maciça maioria dos povos do mundo, excluindo-se Europa e América.  

Veja só, que contradição. Como podemos ser os donos da verdade absoluta, da razão, perfeita e imutável, se somos seguidores e/ou fazemos parte de muito menos da metade da população? Se estamos tão certos e somos tão bons, porque a maioria maciça do mundo não aderiu única e exclusivamente aos nossos costumes? E porque não aderimos única e exclusivamente aos deles? É esse contexto de misturas e percepções que eu chamo de pós-modernidade? Mas é "Pós" para quem? 

Pra pensar.  

Vou terminar de ler o livro.


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As fontes dos dados populacionais são daqui, ó: Banco Mundial - Indicadores do Desenvolvimento Mundial. Encontrado em Public Data (http://www.google.com/publicdata?ds=wb-wdi&met=sp_pop_totl&idim=country:IND&dl=pt-BR&hl=pt-BR&q=popula%C3%A7%C3%A3o+na+%C3%ADndia+hoje), acessado em 21 de Março de 2011, às 1h47.


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2 comentários:

Ilegal_Cyber_Tracer_Dasein_Linus disse...

tô contigo e num abro. Cultura oriental... sábia antiga...
mas, eu ri em:"...então vou fazer na mão..."

bote fé... numerão!(sorry, technish)

Ilegal_Cyber_Tracer_Dasein_Linus disse...

tô contigo e num abro. Cultura oriental... sábia antiga...
mas, eu ri em:"...então vou fazer no papel..."

bote fé... numerão!(sorry, technish)