quinta-feira, 12 de abril de 2012

Que História é essa?








A História ensinada nas escolas hoje é baseada em modelos de construção social pró-nacionalismo. Ufanismo perplexo e característico de tempos políticos que primavam por um ensino nessa medida. Três tempos, especificamente: a Colonização, a chamada Era Vargas e a Ditadura Militar. E a partir da ditadura militar, constituiram-se no Brasil, as principais lacunas na discussão sobre a Teoria da História, que se refletem hoje no seu ensino.

A Grande História (Oficial, que se diga) ensinada hoje nas escolas ainda gira em função dos grandes acontecimentos dos homens brancos de classe média e aristocrata, dos personagens heróis de um mito de constituição nacional, que é reflexo da demanda dessas épocas.

Hoje, grandes pensadores da História, principalmente escritores da literatura, assim como alguns professores (aqui me incluo!) tratam, de uma forma ou de outra, da finalidade de ensinar História, fundamentada em detrimento do que “não se historicizou”. E é claro, muitos de nós deixamos de lado a reflexão e a problematização da História, em função das escolhas de quem detém o poder de disseminar o discurso histórico.

Então hoje eu me pergunto: num mundo onde tudo voa, onde o passado é ontem, onde o futuro é agora, onde o movimento do tempo e do espçao se fundamenta aos efeitos da Internet e das Tecnologias da Informação e Comunicação, e de tudo o mais que altera constante e profundamente a noção de tempo e espaço dos sujeitos... Em tempo desses, é coerente ensinar nas escolas uma História fundamentada nas demandas de tempos em que o objetivo era decorar nomes e datas com objetivo de exaltar personagens locais e nações específicas? É coerente ensinar uma História que não problematize o mundo?

Porque é isso que se faz na grande maioria das escolas públicas. Falo isso por experiência própria: poucas são as escolas públicas que tenho pesquisado que não tratam a História como uma caixa de verdades imutáveis, apesar das propostas curriculares nacionais estarem paradoxalmente pregando a necessidade da interdisciplinaridade e de outros pontos que abrem lacunas acerca do ensino de História, como a história dos afrodescendentes. Estudei a vida toda em escolas públicas e falo por experiência própria: nelas a História sempre foi a mesma. Será que esse raciocínio mudou de 1996 pra cá, com a promulgação da LDB? Ou após a consolidação pública e coletiva dos Parâmetros Curriculares Nacionais?  

Vários autores de História, assim como vários literatos, têm escrito sobre a História dos Esquecidos, a História dos Vencidos, do Cotidiano, a História “dos que não foram historicizados”, e todos esses escritores afirmam a necessidade de percebermos esses sujeitos, seus tempos e seus espaços na escola. Então, a discussão sobre o ensino de História hoje gira em torno de que, talvez, não precisemos mais ensinar nas escolas essa História das datas, dos heróis, dos homens brancos da classe média e aristocrata.

Por quê?

Porque a mulher também é personagem central na História. Porque sem os negros, a História não seria a mesma. Porque sem o povo, sem a massa, sem os excluídos, a História não se fundamenta. A escola não trata desse povo, que, paradoxalmente, é o povo que na maioria das vezes mais se relaciona ao público da escola pública. E porque nossas histórias não são oficiais? Por que os livros didáticos não focam essas nuanças da História? Onde estão as metodologias que utilizam fotografias, internet, excursões, o saber prévio do aluno? Ensinar a História dos livros didáticos é como dizer que o construtor de um grande edifício foi um engenheiro apenas, como se ele tivesse levantado aquilo tudo sozinho. Então na escola entendemos a História desse engenheiro, sua importância, a data de seu nascimento e da construção do "seu" edifício, o referenciamos e pronto: aí está a História oficial do povo.

E onde está O Brasil Construído Pelos Negros? O Brasil Erguido Pelas Mulheres? Fundação de São Paulo Pelos Operários Migrantes do Nordeste? Será que São Paulo seria a mesma sem os imigrantes nordestinos que a transformaram na grande cidade? E as colônias de Portugal e Espanha na África e América Latina, estavam vazias antes de chegarem nelas? Onde está A História dos Nativos E Sua Importância na Fundação do Brasil? Ainda bem que a literatura supre-nos, assim como a internet, as imagens e as TICs, que tem contribuído muito nesse sentido.

Baseando-me nessas colocações, pergunto-me: na escola, não seria mais óbvio, ensinar o aluno a pensar a História? em vez de meter-lhes na cabeça, datas e nomes? Não seria mais óbvio proporcionar ao aluno, espaço para entender a lógica do raciocínio Histórico? Entender sua relação de sujeito com seu tempo e seu espaço? A Didática da História trata disso, e alguns autores dos anos de 1970 pra cá, principalmente no Oriente Médio e norte da África (que relaciona História e seu ensino à transformação social), Alemanha e França, tem debatido o ensino da História noutras perspectivas. O Brasil tá começando.

Há uma necessidade premente de entender a História em um esvair-se da hermenêutica metodológica, seja essa metodologia como for, a exemplo de um esvair-se da hermenêutica da imagem, da literatura, do cotidiano, do sujeito que faz o mundo hoje. Entender a lógica do raciocínio histórico significa, enquanto Educação, uma pedagogia reflexiva, crítica e autônoma, que faz com que possamos ensinar nossos alunos a aprender, enquanto, consequentemente, aprendemos a aprender e a ensinar, afinal, ninguém está pronto, porque nenhuma cultura está completa.

Perceba que temos nas mãos um belo problema de epistemologia do ensino da História, porque não sabemos os efeitos de tomar uma posição dessas na sala de aula.


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